Enologia
é a ciência que estuda a produção dos vinhos. No dia 22 de
Outubro de 1976 a profissão de Enólogo foi regulamentada em todo o
Brasil. Além disso, em homenagem ao aniversário da Associação
Brasileira de Enologia (ABE), todo ano comemora-se o Dia do Enólogo
nesta data.
Os
enólogos são os criadores do vinho, responsáveis por todas as
etapas de elaboração da bebida, desde as condições do clima, a
escolha do solo, da variedade de uva, os métodos de colheita e
plantio, fermentação, engarrafamento e envelhecimento. Geralmente
são graduados em Agronomia ou Enologia e dominam áreas diversas
como geologia, biologia, estatística, física e química.
O
estudo da enologia se profissionalizou em 1876 quando surgiu a
primeira escola no mundo, na Itália. No Brasil, o primeiro curso foi
fundado em 1959, em Bento Gonçalves (RS).
Para
homenagear esses profissionais fundamentais para o mundo dos vinhos,
conversamos com sete enólogos de renome mundial: questionamos a
motivação pela profissão e pedimos que destacassem alguns vinhos
de seus portfólios. Todos têm seus produtos trazidos ao Brasil
pelas importadoras Porto a Porto e Casa Flora. Confira!
João
Maria Ramos (João Portugal Ramos)
Filho
do renomado enólogo João Portugal Ramos, João Maria faz parte da
segunda geração do grupo a elaborar vinhos. A vinícola João
Portugal Ramos iniciou suas atividades na região do Alentejo,
Sudeste de Portugal, em 1980. Hoje o grupo é um dos principais
produtores portugueses, com reconhecimento internacional e diversos
prêmios. Além do Alentejo, atua nas denominações do Vinho Verde,
Douro e Beiras.
O
que te motiva a ser enólogo?
A
paixão pelo vinho me foi transmitida pelo meu pai e pelos meus avós.
A grande motivação é saber que todos os vinhos podem ser
aperfeiçoados, logo, todos os dias temos que melhorar o nosso
trabalho e experimentar métodos novos. Cada vez mais penso que o
nosso trabalho é traduzir as expressões da vinha e das uvas numa
garrafa de vinho, temos que saber interpretar muito bem a natureza
para conseguir fazer esta tradução.
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca?
Inevitável
destacar o Marquês de Borba Reserva, é um vinho muito
especial para a nossa família. Começou na safra de 1997 e apenas é
feito em anos extraordinários. Nesses anos temos conseguido obter
vinhos únicos e com uma capacidade de envelhecimento enorme. O 2017
fica na memória de quem o bebe, um grande vinho sem dúvida. Outro
vinho que não posso deixar de destacar é o Pouca Roupa,
que marca entrada da segunda geração na empresa, é um vinho
pensado por mim e pela minha irmã Filipa, tentando atrair os
consumidores mais jovens; descomplicado e divertido, para ser bebido
em jantares com amigos.
Jean
Jacques Dubourdieu (Domaine Denis Dubourdieu)
Coproprietário
da francesa Domaine Denis Dubourdieu, e filho do famoso enólogo
Denis Dubourdieu, Jean-Jacques Dubourdieu, atua na empresa desde
2006. Com o falecimento de Denis Dubourdieu (em 2016, no mesmo ano em
que foi eleito Homem do Ano pela revista inglesa Decanter), assumiu o
comando das cinco propriedades em Bordeaux, na França, juntamente
com seu irmão Fabrice. Formado em Enologia, pela Universidade de
Bordeaux, auxilia nas questões de viticultura e enologia, além de
ser responsável por divulgar os vinhos da Domaine pelo mundo.
O
que te motiva a ser enólogo?
Tive
a chance de crescer no Château Reynon e fiz o meu primeiro vinho em
1993, aos 12 anos. Também cresci ao lado do Denis Dubourdieu, o meu
pai, grande professor de enologia. Fui treinado muito jovem e na
verdade pensei que era normal! Nunca imaginei fazer outra coisa!
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca?
Adoro
o Clos Floridene branco, que é referência em vinho branco em
Bordeaux. O terroir único de calcário, e a uva Sémillon de
vinhedos antigos, tornam este vinho completamente notável. O Château
Reynon tinto tem um valor incrível, um grande Merlot da Margem
Direita. O Château Doisy Daëne Barsac é também um vinho muito
importante para a nossa família: está em nossas raízes, o meu
bisavô, Georges Dubourdieu, comprou este vinhedo em 1924. Além de
toda a nossa história ter começado com este Château, este vinho
pode envelhecer séculos.
Ana
Urbano (Caves Messias)
Enóloga
da vinícola portuguesa Caves Messias, graduou-se na Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro. Atualmente é responsável pela
produção, estágio e engarrafamento dos Vinhos do Porto.
O
que te motiva a ser enóloga?
O
que me motiva é todo o processo que leva à transformação da uva
num produto único como o vinho, algo incrível como a alquimia de
juntar vinhos, como no caso do vinho do Porto, para definir estilos.
Também o fato de estimular os nossos sentidos e, claro, de poder
degustar e apreciar um vinho com quem mais gostamos e saber que mais
alguém poderá partilhar essa mesma paixão e experiência num local
remoto no mundo.
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca?
Destaco
dois. O Quinta do Valdoeiro Reserva, por ser um vinho de
grande complexidade aromática, no qual encontro a fruta preta aliada
a notas de iodo; em boca tem grande intensidade, com taninos bem
sedosos, com uma frescura incrível. Também o Porto Messias
10 Anos, de grande equilíbrio entre fruta seca e algumas notas
de folhas de chá; em boca a frescura e a complexidade de um vinho
com mais de 10 anos de estágio em madeira, com taninos redondos, que
deixam uma presença incrível na boca.
Rui
Veladas (Carmim)
Engenheiro
e enólogo da vinícola portuguesa Carmim.
O
que te motiva a ser enólogo?
O
gosto pelo vinho e pelos seus aspetos técnicos, hedônicos e
culturais. Igualmente os desafios que cada vindima apresenta, nenhuma
é igual!
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca?
O Garrafeira
dos Sócios, pela sua história particular e por ter sido o
primeiro Garrafeira do Alentejo. É um vinho que permite, mesmo à
distância de muitos anos da safra, relembrar as características e o
potencial da mesma, com muito prazer à mistura.
Tiago
Garcia (Carmim)
Também
Enólogo da vinícola portuguesa Carmim. Licenciado em Enologia pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Possui pós-graduação
em Enologia. pela Universidade de Évora, entre outros cursos do
mundo dos vinhos.
O
que te motiva a ser enólogo?
É
a paixão, estabelecer uma relação com o vinho num percurso sem
fim, de viagens constantes, de partidas e regressos, de emoções e
desilusões. Aprendi a amar o vinho tenha ele a cor que tiver.
Compreender e enquadrar os vinhos que produzimos e bebemos. Explorar
ligações gastronômicas diferentes, ser por vezes alquimista,
filosófico, poeta. Mas, acima de tudo, compreender melhor o vinho, o
seu terroir e as suas características. Construir uma memória que
nos relaciona com o vinho de forma autêntica!
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca?
Destaco
uma das nossas mais recentes novidades, o Carmim Tarefa tinto
2019. Tarefa
em homenagem ao antigo recipiente de barro utilizado durante gerações
para armazenar pequenas quantidades de produtos tradicionais. As
tarefas eram onde nasciam os vinhos caseiros, antigamente. Este tinto
de 2019 é criado a partir de vinhas velhas de castas como Alicante
Bouschet, Castelão ou Moreto. Um vinho muito atraente de aromas, com
a fruta muito fresca a aparecer e a dominar no imediato. O barro
faz-se notar em conjunto com algum agradável vegetal/ervas de cheiro
e tom mais terroso no fundo a encaixar muito bem e dar lhe frescura.
Destaco a acidez no paladar com a fruta suculenta e muito limpa,
muito prazer para beber e acompanhar pratos de gastronomia regional.
Um vinho muito atual, mas que, ao mesmo tempo, lembra outras
gerações.
Andrés
Caballero (Santa Carolina)
Gerente
de Enologia da vinícola chilena Santa Carolina, formou-se em
Engenharia Agrônoma da Pontifícia Universidade Católica do Chile.
Quando entrou na Santa Carolina liderou um processo de
desenvolvimento e exploração de novos vales vinícolas. Possui
ótimas críticas da imprensa e medalhas em competições
internacionais.
O
que te motiva a ser enólogo?
Nos
mais de 25 anos que trabalho na agricultura, especificamente na
enologia, posso dizer que não vivi dois dias iguais. No meu
trabalho, todo dia vem com algo novo. Cada dia tem suas próprias
surpresas. Um novo desafio. Um novo método. A necessidade de criar
um novo produto para resolver um problema que não existia ontem,
para aprender e manter-se a par dos avanços na tecnologia. A
possibilidade de viajar e conhecer lugares e pessoas. A motivação
para viajar vales onde você pode encontrar aquele canto especial com
a combinação perfeita de solo, clima, irrigação e sol.
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca?
A
linha Carolina Reserva. Não só porque oferece um vinho
para cada momento, mas porque
seu
caráter frutífero, alegre e de excelente estrutura acompanha a
jovialidade.
Juan
Teixeira
Enólogo
na Justino´s Madeira.
O
que te motiva a ser enólogo?
É
podermos transformar o fruto da videira em uma das bebidas mais
interessantes que existem no mundo, sabendo de antemão que existem
inúmeros fatores que condicionam a qualidade e o caráter único de
cada vinho. No caso do vinho da Madeira, o desafio é muito grande.
Trabalhamos com vinhos que outras gerações nos deixaram e fazemos
vinhos para as gerações futuras. O vinho da Madeira atinge todo o
seu esplendor e complexidade após longos anos a envelhecer em
madeira, num processo oxidativo que lhe confere as suas
características singulares. Por vezes é frustrante saber que quando
alguns dos nossos vinhos estiverem no auge provavelmente já não
estaremos por cá. Costumo dizer, por brincadeira, que farei parte do
grupo de anjos que participa no “desaparecimento” dos nossos
vinhos nas nossas caves e é por isso que eu e minha equipa tentamos
fazer o melhor. Muitos vinhos da Madeira são elaborados a partir de
blends de vinhos de diversas colheitas. A manutenção da
consistência dos vinhos e a garantia de que mantemos o perfil da
vinícola é um desafio enorme, pois existem inúmeras variáveis que
tornam os vinhos diferentes mesmo sendo da mesma colheita.
Dos
seus vinhos que fazem parte do catálogo da Porto a Porto, qual você
destaca e por quê?
Gosto
de todos os vinhos que compõe o portfólio da Porto a Porto. As
Reservas Velhas, de 10 anos, monovarietais, produzidos a partir da
Tinta Negra, Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia, têm uma grande
qualidade e revelam a diversidade que o vinho da Madeira pode
apresentar e que nos permite apreciá-lo em quaisquer circunstâncias.
Logicamente que a minha preferência vai para os vinhos da Madeira
que têm alguma evolução como os Colheita 1997 e 1999 produzidos a
partir da Tinta Negra. Se tiver mesmo que destacar um vinho é
o Justino’s Madeira Terrantez 1978 pela grande
elegância e complexidade que apresenta. A marcada salinidade em fim
de boca denota o carácter insular que nos transporta para a Ilha da
Madeira se estivermos longe. É o que chamo um vinho de meditação.
- Fotos divulgação