No ano em que comemora 20 anos de sua vinícola, Filipa Pato é eleita a Enóloga do Ano 2020 pela “Revista de Vinhos”, publicação conceituada de Portugal. Seus vinhos também atingiram excelentes pontuações na revista Wine Advocate, do crítico Robert Parker, e estão no Top 100 da publicação.
“Ficamos muito felizes de ver o esforço de anos reconhecido”, diz a enóloga. “Arriscamos muito quando acreditamos que era possível trabalhar com biodinâmica na Bairrada, quando apostamos na casta Baga em exclusividade nos tintos, mas era o que fazia sentido na nossa filosofia de vinhos autênticos, sem maquilhagem. Fomos resilientes durante muitos anos e o resultado chegou com o reconhecimento pela imprensa nacional e internacional”, completa.
Trata-se um branco que mistura as uvas Bical (80%) e Arinto (20%), duas típicas da Bairrada. Todo o processo de elaboração é minucioso e artesanal: a colheita é manual, a prensagem dos cachos de uvas acontece com eles inteiros, a fermentação ocorre com as leveduras da própria uva e 10% é fermentado em barricas de carvalho francês (500 – 600 litros). Mas o que significam todas essas considerações técnicas?
Que para Filipa Pato um vinho bom começa a ser elaborado no vinhedo, com os cuidados que a planta recebe, e que nenhuma das características do produto deve ser maquiada. “Minha dedicação primordial é ao vinhedo, onde passo 70% do meu tempo, pois acredito que com uvas saudáveis tudo se torna mais fácil na adega e não é preciso maquiar as uvas”, diz Filipa.
Sustentabilidade
Desde 2014 os vinhedos estão em processo de conversão à biodinâmica e ela não usa herbicida desde 2009. O resultado tem sido excelente. “Usamos animais nas vinhas, como é o caso das ovelhas, que pomos lá entre novembro e fevereiro, quando ainda não há folhas nas videiras”, conta. “Elas comem a erva toda. E também servem para fertilizar naturalmente o solo. E, na primavera, na altura em que temos o ataque dos caracóis, levamos para lá as galinhas. Sou química de formação, mas nas minhas vinhas e nos meus vinhos não há produto químico”, completa. Até as rolhas que vedam todos os vinhos da vinícola são de cortiça natural de floresta biológica.
“O nome Dinâmica do vinho representa a dinâmica entre a videira, a fauna e a flora ao seu redor”, continua. “Mostra que nestas vinhas, ao contrário da maioria das regiões do mundo, não há monocultura, existem oliveiras, pinheiros, figueiras e arbustos que protegem a videira e atraem animais de várias espécies. A biodiversidade é sempre uma prioridade e cria uma dinâmica especial e única. Os nossos vinhos são o reflexo desse ecossistema criado ao longo dos anos durante os quais nos dedicamos à revitalização e preservação das espécies autóctones, sem maquilhagem de herbicidas ou pesticidas”, finaliza.
O resultado é um vinho branco extremamente elegante, que sugere aromas de frutas brancas como peras, com notas de iodo e tomilho. Seus sabores são refinados, com muita mineralidade e uma espécie de salinidade devido à proximidade ao Oceano Atlântico. É um vinho seco, frutado e com acidez persistente. Sugere-se harmonizar com queijos frescos de cabra e ovelha, peixe cru, marinado ou marisco, aves grelhadas e cozinha mediterrânea.
Recentemente, o vinho Nossa Calcário tinto 2018 recebeu 93 pontos de Robert Parker. A safra 2016 deste mesmo vinho ganhou 96 pontos do crítico – o primeiro vinho da Bairrada a receber uma pontuação alta como essa da publicação norte-americana. - Fotos divulgação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário