A
equipe do Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense vem
desenvolvendo pesquisas arqueológicas no entorno do Palácio
Belvedere, prédio histórico localizado na Praça João Cândido,
Alto São Francisco, em Curitiba, e que está sendo revitalizado pela
Prefeitura Municipal de Curitiba. Desde o início das escavações,
em agosto, já foram encontrados fragmentos de ossos, de cerâmica, e
até ossadas inteiras, muito bem preservadas.
Na
praça existem vestígios da capela de São Francisco de Paula,
construída entre 1799 e 1809, e demolida em 1915 para a edificação
do Belvedere. Nessa área, entre os séculos XVIII e a metade do
século XIX foram realizados sepultamentos, especialmente de jovens e
crianças.
“Já
na primeira trincheira escavada apareceu um sepultamento completo,
que estimamos ter cerca de 200 anos, a apenas 40 cm de profundidade.
Estamos escavando em uma área interna da capela, que protegeu esse
sepultamento humano em ossos por cerca de 100 anos. Depois foi feito
um calçamento que também auxiliou na preservação e tornou
possível encontrarmos essa ossada muito bem preservada, mesmo
próxima à superfície”, comenta a responsável pelo Setor de
Arqueologia do Museu Paranaense, Cláudia Parellada, que está à
frente das pesquisas no local.
Para
o secretário de Estado da Comunicação Social e da Cultura, Hudson
José, isso reforça a importância do trabalho conjunto entre o
Governo do Estado, por meio da Coordenação do Patrimônio Cultural
e do Museu Paranaense, e a Prefeitura de Curitiba. “Em um projeto
de revitalização de um patrimônio cultural do Paraná e de
Curitiba, surgiu a oportunidade de revelar ao público a memória
urbana que estava tão próxima, mas esquecida.”
Desde
o início das escavações, em agosto de 2019, vários ossos humanos
e vestígios relacionados aos séculos XVIII e XIX já foram
identificados nas pesquisas. “É como se fosse uma caixinha mágica.
No momento em que vamos abrindo, vão surgindo informações, como um
molar próximo a uma mandíbula, que estava logo abaixo do
calçamento, a 5 cm de profundidade”, relata Claudia.
Estudos
sistemáticos
Quando
o projeto de reforma e restauração do Palácio Belvedere chegou à
Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) para análise, foi
identificada a necessidade de elaborar também um projeto
paleoarqueológico no local, pelo conhecimento prévio de que a
região poderia conter vestígios paleontológicos e arqueológicos.
O
Museu Paranaense foi, então, convidado a colaborar com o projeto e
com as pesquisas por meio do Departamento de Arqueologia. Claudia
explica que as primeiras análises ocorreram no início de junho de
2019, quando surgiu a necessidade de realizar estudos sistemáticos
na praça. Foi preciso uma autorização do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para as escavações e
prospecções, por se tratar de área tombada. “A autorização
federal foi publicada em julho, e, no início de agosto de 2019 foram
iniciadas as escavações, priorizando áreas que terão intervenções
em subsuperfície, como a da instalação de elevador e de deck, e a
de cabos subterrâneos”, complementa.
Os
vestígios recuperados serão estudados com o objetivo de compreender
melhor a memória e os processos de ocupação urbana do Alto São
Francisco, as paleopatologias e a qualidade de vida em Curitiba entre
o final do século XVIII e a metade do XIX, além de resgatar
elementos da cultura material.
400
mil peças
O
Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense é responsável por
um acervo de cerca de 400 mil peças, na maioria cerâmicas e
artefatos líticos, além de 53.600 mil ossos humanos, entre eles
vestígios de sambaquis do litoral paranaense, outros materiais
conchíferos, paleontológicos e orgânicos provenientes do
território paranaense. Continuamente o setor realiza pesquisas
buscando a reconstrução da pré-história paranaense e o mapeamento
do patrimônio arqueológico do Paraná. Hoje o museu possui dois dos
seis acervos arqueológicos tombados pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.- Fotos Kraw Penas
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