terça-feira, 14 de julho de 2020

A vez do vinho brasileiro


O espumante brasileiro abriu as portas para o mundo. O reconhecimento da qualidade das borbulhas ‘brazucas’ é fato consumado, defendido por críticos internacionais e avalizado pelas milhares de medalhas mundo afora, se confirmando no avanço das exportações e no aumento do consumo interno. Foi com esta bebida que as vinícolas conseguiram espaço para mostrar o que vêm fazendo em relação aos vinhos tranquilos. E o que se vê nos últimos anos é um crescimento contínuo na valorização deste produto. Das 259 medalhas conquistadas em 2019, 37% foram para vinhos tranquilos, uma representatividade nunca antes alcançada.
 A Associação Brasileira de Enologia (ABE), que atua focada na qualificação do enólogo e, consequentemente, na qualidade e promoção do vinho brasileiro, acompanha bem de perto esta evolução, tanto na coordenação do envio das amostras para concursos internacionais quanto pela Avaliação Nacional de Vinhos, que analisa cada safra há 28 anos, servindo de termômetro e parâmetro para os avanços do setor.
“Nos últimos 10 anos fomos presenteados com safras espetaculares. Este ano, então, foi excepcional, tanto que a chamamos de ‘A Safra das Safras’. Nós, enólogos, e vinícolas, não perdemos tempo. Avançamos, evoluímos, e muito em tão pouco tempo, em tecnologia e conhecimento, aproveitando o que a mãe natureza nos deu. O resultado está aí para todos degustarem e vem agradando cada vez mais apreciadores de vinhos”, comemora o presidente da entidade, enólogo Daniel Salvador.
 
Ele alerta os consumidores para que descubram rótulos nacionais dos últimos anos, destacando a Safra de 2018 e agora a de 2020 que logo estará no mercado. “Se compararmos o Brasil a países do Velho Mundo, tradicionais na elaboração de vinhos como Portugal, França, Espanha e Itália, podemos dizer que evoluímos 100 anos em 10 anos. Tanto que somos convidados a participar de concursos mundiais com a chancela da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, entidade com sede em Paris que está sob a presidência da brasileira Regina Vanderlinde. Ou seja, temos voz no mundo dos vinhos e isso nos orgulha e nos move a seguir investindo”, ressalta.
 
Este avanço refletiu diretamente no consumo interno, rompendo pela primeira vez a barreira dos 2 litros per capita no ano passado. Já é algo a comemorar, mas se comparado a Portugal, por exemplo, que lidera o ranking segundo a OIV, onde o consumo per capita ultrapassa os 60 litros, o Brasil tem muito para crescer. Em 2019, o consumo total no Brasil foi de 380,4 milhões de litros, destes pouco mais de 100 milhões são de vinhos finos, onde a produção nacional é de apenas 50 milhões de litros.
 
Diversidade, qualidade e preço
Esta tríplice de fatores tem influenciado diretamente a quebrar paradigmas em relação ao vinho brasileiro, que passa a ser mais valorizado no mercado interno. Com a pandemia, o hábito de apreciar um vinho em casa não apenas levou o consumidor a pesquisar e comprar mais pela internet como nos supermercados, como também vem permitindo conhecer melhor o que o Brasil tem feito. “Vinho é cultura, é arte, é história, é experiência. 

O melhor a fazer é provar diferentes rótulos para conhecer as preferências do próprio paladar. E sugiro, ainda, fazer isso entre amigos e às cegas, evitando preconceitos e fazendo novas descobertas. Façam isso com rótulos de diferentes procedências e verão que o Brasil dos vinhos é orgulho nacional”, provoca Salvador.
 
Além da qualidade, a diversidade de estilos também é um chamariz para quem aprecia vinhos e busca por novidades, característica peculiar ao Brasil que, por muitos especialistas, é considerado um continente diante das variantes de solo e clima do país. Hoje, são 26 regiões produtoras em 10 estados brasileiros e cada uma com suas particularidades. E para quem diz que o vinho brasileiro é caro, o mercado mostra que existem dezenas de opções de bons rótulos a partir de R$ 20, avançando conforme a categoria. Grande parte oscila entre R$ 40 e R$ 60, com excelente relação custo-benefício.
 Imagens: Divulgação ABE e Marian Guimarães.

Nenhum comentário:

Postar um comentário