A
mixologista, jornalista e pesquisadora de brasilidades Néli Pereira
lança em Curitiba, durante o Festival Tutano que será realizado no
Museu Oscar Niemeye- MON, seu livro Da Botica ao Boteco -
Plantas, garrafadas e a coquetelaria brasileira. Este é o
primeiro livro da curitibana, que ficou conhecida em todo Brasil por
seu trabalho à frente do Espaço Zebra, em São Paulo. Sua palestra
no evento acontece no sábado (21), às 15h30 e será seguida de uma
sessão de autógrafos.
Menos
grapefruit, mais cataia
Com
escrita leve e bem-humorada, Néli nos convida a imergir na pesquisa
pioneira que desenvolve há uma década, focando em ingredientes e
técnicas típicos de nosso país e que normalmente não seriam
considerados insumos para as criações de mixologistas.
Seus
estudos investigaram as nuances de sabor de ervas, cascas, raízes,
frutas e plantas para que pudessem ser empregadas no preparo de
coquetéis que surpreendem o paladar. “Além de todo o significado
cultural desses ingredientes, quero saber que sabor tem a cataia, a
catuaba, a carqueja, o mastruz ou a jurubeba. Você saberia me
dizer?”, questiona a autora.
Ao
propor o uso de botânicos brasileiros tradicionalmente utilizados
para fins medicinais no preparo de coquetéis, Néli tem como
objetivo ressignificá-los para que, ao serem atribuídos de mais um
fim, sejam valorizados em todo seu potencial. “É preciso
reconhecer uma cultura para defendê-la”, escreve, reforçando a
importância de preservarmos técnicas e ingredientes que podem
acabar se perdendo ao caírem em desuso.
Um
pote de vidro com plantas submersas em álcool é um universo
Ao
iniciar o estudo sobre o sabor de alguns ingredientes que nos são
familiares (mas não necessariamente como matéria-prima para
drinques), Néli se deu conta de que sua análise precisaria abranger
também técnicas de preparo populares e brasileiras. Foi assim que
as garrafadas ganharam um lugar central em seu trabalho. “Amplamente
utilizadas na medicina popular, são uma ferramenta importante para
aprender a utilizar, misturar e retirar não apenas princípios
ativos, mas sabor das plantas.”
Dentro
do líquido, conta ela, ocorre uma transformação intensa: a bebida
vai mimetizando a planta, com todas as suas características e
poderes: sabor, princípio ativo, cor. Conforme narra suas
experimentações e descobertas, Néli convida os leitores a
adentrarem seu herbário, que fica ao lado do seu bar, no centro de
São Paulo. Uma grande biblioteca sensorial, esse espaço abriga seus
ingredientes, testes, infusões e alquimias.
Nas
mais de 200 páginas, ela também relata as vivências, conversas e
aventuras que fizeram parte de sua pesquisa imersiva — com
experiências que vão de Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, a
Belém, no Pará. Enquanto compartilha seus aprendizados sobre
sabores e saberes ancestrais, a autora aproveita para contextualizar
historicamente o uso milenar de plantas embebidas em álcool, desde a
medicina até os goles recreativos.
Como
se dava o consumo de elixires medicinais no Egito, na China e na
Grécia há milênios? Néli segue viagem e comenta também as
bebidas citadas em obras como Odisseia e Ilíada,
de Homero, e nos estudos de Galeno. Ela cita outros alquimistas e
curandeiros que criaram, em farmácias e boticas, misturas que
inspiram até hoje as técnicas da coquetelaria.
Ao
narrar suas experiências e compartilhar os resultados de seus
estudos, Néli apresenta explicações que vão desde as técnicas
básicas da coquetelaria (preparos de xaropes, shrubs e
tinturas) até o passo a passo de receitas de coquetéis clássicos e
autorais. Alguns dos ingredientes nativos mais emblemáticos para a
pesquisa de Néli ganham destaque na obra, com informações
detalhadas, caso do jucá, do urucum, do milome, do boldo, da
carqueja, do butiá, do mastruz, da catuaba e da jurubeba.
Sobre
Néli Pereira:
Jornalista,
Néli Pereira atuou em veículos de imprensa nacionais e
internacionais, caso da BBC de Londres e da BandNews. Mestre em
Estudos Culturais Latino-Americanos pela University of London, também
palestrou no TEDx São Paulo em 2019 e em 2020. Pesquisadora de
brasilidades, ela é uma estudiosa da identidade cultural brasileira
em diversas áreas — inclusive na coquetelaria. Como mixologista,
Néli ganhou destaque por conta do trabalho à frente de seu Espaço
Zebra, uma mistura de bar e galeria de arte instalada na região
central de São Paulo. Ali, levou ao público o surpreendente
resultado de uma pesquisa intensa sobre ingredientes e técnicas
genuinamente brasileiros. Como consultora, já desenvolveu projetos
para grandes marcas nacionais e internacionais, além de elaborar
cartas de drinques para bares e restaurantes.
O
Festival Tutano acontece nos dias 21 e 22 de outubro, no Museu Oscar
Niemeyer (MON), das 10h às 19h. Os ingressos estão à venda na
plataforma Sympla (aqui).
Para mais informações sobre o evento, acesse o perfil oficial do
Tutano Gastronomia no Instagram . Foto
divulgação.