Considerado
precursor da escultura no Paraná, o artista João Turin (1878-1949)
terá suas obras reunidas e reverenciadas no Parque São Lourenço,
um dos cartões postais da cidade de Curitiba (PR), onde será
abrigado o Memorial Paranista João Turin, uma iniciativa da
Prefeitura Municipal de Curitiba.
Em
19/12 (sábado) será realizada às 11h a entrega simbólica do novo
memorial pelo prefeito de Curitiba, Rafael Greca. Nesta ocasião, o
parque contará com uma das obras mais conhecidas de Turin,
“Marumbi”, em uma ampliação em tamanho heroico, com cerca de 3
metros.
Até
a data do aniversário de Curitiba, em março de 2021, está previsto
para inaugurar todo o complexo que fará parte do Memorial Paranista
João Turin, onde estarão reunidas 78 esculturas do artista, doadas
ao Governo do Estado do Paraná pelos detentores dos direitos
autorais, a SSTP Investimentos Ltda, da Família Lago. Estas obras
foram cedidas pelo Governo do estado em regime de comodato para o
município de Curitiba.
A
SSTP Investimentos Ltda também doará uma fundição elétrica,
segura, moderna e ambientalmente correta, em substituição à
existente no local, que está obsoleta. “Isso vai propiciar aos
novos artistas meios para fundir suas peças, estimulando e ajudando
o desenvolvimento da arte escultórica paranaense. Acreditamos que
seria o que João Turin gostaria de ver, pois ele mesmo teve imensa
dificuldade em fundir suas peças à sua época, deixando muitas
obras inéditas”, comenta Samuel Lago, da SSTP Investimentos Ltda.
“Além
disso, também fará parte do Memorial Paranista João Turin o Jardim
das Esculturas, um espaço de mais de 8 mil m², que vai contar com
outras 12 obras de bronze, adquiridas pelo Governo Municipal, em
tamanhos ampliados, sendo que duas terão proporções heroicas, com
cerca de 3 metros de altura, que transformarão o Parque em um grande
centro de artes a céu aberto”, completa.
Quem
assina o Projeto é o arquiteto Guilherme Glock, do IPPUC –
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, órgão
ligado à Prefeitura Municipal da cidade. “O memorial se ergue como
uma grande galeria em aço e vidro translúcido, que pede licença ao
conjunto existente para conduzir a uma nova experiência e produzir
uma sinergia capaz de organizar os espaços, distribuir as funções,
orientar os visitantes e conduzir às artes da fundição, para
compreender nossos maiores mestres nas artes da proporção,
modelagem e técnica”, comenta o arquiteto.
A
iniciativa tem o objetivo de atrair um grande público, entre
admiradores das artes e turistas que visitam a capital paranaense,
valorizando este importante artista e também o Parque São Lourenço,
que já é um espaço privilegiado com uma série de atrativos de
cultura e lazer. Além de ser próximo de outros dois pontos
turísticos da cidade: a Ópera de Arame e a Pedreira Paulo Leminski.
"Além
de um reconhecimento internacional de preservação cultural tão
importante, o Memorial, no Parque, vai incentivar o turismo, trazendo
mais recursos à cidade. Trata-se de um pensamento de desenvolvimento
sustentável, e precisamos lembrar que a preservação cultural e o
patrimônio cultural são benefícios bastante diretos para a
cidade", avalia Samuel Lago, da SSTP Investimentos Ltda.
Obras
no Brasil e na França
Hoje
é impossível falar na arte paranaense sem citar João Turin. Ele
foi um dos primeiros artistas a levar a arte de seu estado para o
Brasil e o mundo. Há esculturas de Turin em locais públicos de
municípios paranaenses, no Rio de Janeiro e até na França, onde o
artista tem exposta uma Pietá, feita em 1917, para a Igreja de Saint
Martin, em Condé-sur-Noireau, uma verdadeira relíquia, que resistiu
aos bombardeios da guerra. Um exemplar desta obra estará exposta no
Memorial.
Curitiba,
onde Turin passou boa parte de sua vida, conta com muitas esculturas
do autor espalhadas pela cidade, como “Tigre esmagando a cobra”,
localizada próximo ao portal do bairro de Santa Felicidade, “Luar
do sertão”, na rótula do Centro Cívico e “Tiradentes”, na
praça de mesmo nome.
Existem
410 obras catalogadas. Apesar de ser associado como escultor, João
Turin também produziu desenhos, pinturas, design de moda e criações
arquitetônicas com sua arte. Essa versatilidade pôde ser conferida
de perto pelas 266 mil pessoas que visitaram “João Turin – Vida,
Obra, Arte”, a exposição mais visitada da história do Museu
Oscar Niemeyer, em Curitiba. Foi inaugurada em junho de 2014, com
duração de oito meses no espaço mais nobre e privilegiado do museu
(a construção conhecida como “olho”, que confere o nome como o
local é popularmente conhecido).
Tal
sucesso de público levou-a a compor o ranking anual das
exposições mais visitadas no mundo, no ano de 2014, realizado pela
revista inglesa especializada The Art Newspaper. Esta
exposição também teve uma versão condensada, exibida em 2015 no
Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e na Pinacoteca de
São Paulo.
Obra
de Turin nas mãos do Papa Francisco
Em
julho de 2013, a escultura “Frade Lendo”, de João Turin, foi
entregue como doação para o Papa Francisco, na primeira visita do
pontífice ao Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude. A
troca de presente faz parte do protocolo de encontro entre chefes de
Estado, sendo a escultura um presente oficial do Governo Brasileiro.
Criada
nos anos 30, a estátua de 44 centímetros de altura representa um
frade de meia idade, levemente curvado, calvo e com uma longa barba,
lendo um livro. Turin está entre os raríssimos artistas brasileiros
presentes no acervo de arte do Vaticano.
Uma
vida envolta na arte da escultura
Nascido
em 1878 em Morretes, cidade histórica do litoral do Paraná, João
Turin veio para a capital Curitiba, ainda garoto, onde foi aprendiz
de ferreiro, torneiro, marceneiro e entalhador. Em seus estudos, foi
aluno e posteriormente professor na Escola de Belas Artes e
Indústrias do Paraná.
Mais
tarde seguiu para a Bélgica, para a Real Academia de Belas-Artes,
onde se especializou em escultura. Retornou ao Brasil em 1922,
trazendo comentários elogiosos da imprensa francesa. Destacou-se
como escultor animalista, conforme afirmava seu sobrinho-neto Jiomar
Turin, falecido em 2014: “João Turin talvez seja o maior escultor
animalista do Brasil, pois era profundo conhecedor da anatomia animal
e suas obras, mais especificamente as esculturas de onças, que
apresentam muito vigor e movimento”.
João
Turin também é lembrado como um dos criadores do Paranismo,
movimento regionalista que buscava uma identidade para a arte
paranaense, caracterizando-se pelo uso de motivos típicos do estado
do Paraná em arquitetura, pintura, escultura e grafismos.
“Turin
é um dos expoentes deste movimento, que buscava construir a
identidade regional do Paraná por meio da arte e de símbolos como o
pinheiro e a erva-mate. Ou seja: sua arte está nas veias de todos os
paranaenses, ela marca uma parte bastante importante da nossa
história e do nosso jeito de ser”, afirma Samuel Lago, da SSTP
Investimentos Ltda.
Foi
premiado no salão de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1944 e 1947.
Faleceu em 1949, quando ainda exercia seu trabalho, deixando um
precioso acervo, que inclui pequenas esculturas e baixos relevos,
pinturas, monumentos, desenhos, documentos e obras em locais
públicos. - Fotos Maringas